Volume

13

Edição

1

*Autor(a) correspondente lcteixeiracoelho@prefeitura.rio

Publicado em 26 mai

2025

Como citar? TEIXEIRA COELHO, L. C. Rio de Janeiro - retratos e relatos de uma cidade que nos fascina. Coleção Estudos Cariocas, v. 13,

n. 1, 2020

DOI: 10.71256/19847203.13.1.145.2025

O artigo foi originalmente

submetido em PORTUGUÊS.

As traduções para

outros idiomas foram

revisadas e validadas

pelos autores e pela

equipe editorial. No entanto, para a representação mais precisa do tema abordado, recomenda-se que os leitores consultem o artigo em seu idioma original.

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Rio de Janeiro - retratos e relatos de uma cidade que nos fascina

Rio de Janeiro – portraits and stories of a city that fascinates us Río de Janeiro – retratos y relatos de una ciudad que nos fascina

Luiz Carlos Teixeira Coelho1*

1Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos, R. Gago Coutinho, 52 - Laranjeiras, Rio de Janeiro - RJ, 22221-070, ORCID 0000-0002-4466-9772, lcteixeiracoelho@prefeitura.rio

A Coleção Estudos Cariocas vem, há mais de vinte anos, compartilhando saberes e pesquisas sobre a cidade do Rio de Janeiro. Neste relançamento da revista, quisemos dar um caráter ainda mais multidisciplinar e transversal, buscando trabalhar também a esfera metropolitana e as interlocuções da metrópole carioca enquanto cidade global. O objetivo? Tornar este periódico referência primordial de conhecimento acadêmico sobre a cidade do Rio de Janeiro, projetando o Instituto Pereira Passos enquanto think tank e policy maker para o desenvolvimento urbano, e almejando uma audiência mais global, ao oferecer todos os artigos de forma trilíngue (português, inglês e espanhol).

Entretanto, quem vem acompanhando as últimas publicações, pode especular sobre o insucesso dessa estratégia, uma vez que todas remontam ao passado, e recontam fatos históricos - às vezes anedóticos, às vezes deterministas (mas sempre impressionantes) - acerca da nossa cidade. Não enxergo esse fluxo como fracasso, mas sim como sucesso, e posso justificá-lo!

O estudo do passado nos permite compreender os erros e acertos de nossos ancestrais e propor novos caminhos que impliquem em transformações. E, nesse sentido, os artigos publicados nesta edição proveem farta articulação sobre políticas públicas tomadas no passado, seus impactos e consequências, dando-nos ferramental teórico para planejarmos o futuro de uma cidade mais democrática e inclusiva.

Por exemplo, Pereira (2025) apresenta a primeira grande obra da administração Pereira Passos: a abertura da Rua do Sacramento (hoje Avenida Passos), executada em 1903. O Rio de Janeiro, cidade apinhada, com articulação de logradouros reminiscente de seu Centro colonial, sofreu grandes transformações com a abertura de avenidas amplas e promenades para a nova elite civilizada proposta pelo alcalde recém-instituído. O autor logra ponderar feitos positivos e negativos, sinalizando sua significância como paradigma para as demais reformas urbanas subsequentes. Lições a serem aprendidas nos apontam para a necessidade de reforma que inclua a toda a gente, sem barreiras - visíveis ou invisíveis - à livre circulação de pessoas. O autor sinaliza muito bem que a Avenida Passos retém muito de seu plano e edificações originais justamente porque manteve uma certa identidade popular, como eixo central da região de comércio popular da Saara. Seria essa a intenção original de Pereira Passos? Provavelmente não, mas nos mostra como planejar, e como pensar em reformas que adequem a cidade a toda a sua gente, com variedade de usos e oportunidades amplas de comércio e lazer.

Ainda na toada da Primeira República, o trabalho de Duarte, Santos e Lopes (2025) mescla História Urbana e Geoprocessamento na visibilização das linhas de bonde que outrora singraram as ruas cariocas. Quem nunca teve curiosidade em vislumbrar por onde andavam esses trilhos que insistem em aparecer, vez por outra, por debaixo da manta asfáltica de nossas ruas? Os autores fizeram um trabalho primoroso de georreferenciamento de plantas antigas e investigação histórica das companhias que operavam esses trilhos. Ao contemplar os mapas, podemos entender melhor as formas de ocupação do espaço, os loteamentos e a abertura de bairros. Mediante documentos cartográficos, torna-se possível entender a formação da metrópole carioca e o desenvolvimento dos subúrbios cariocas, cujos eixos centrais dependiam do transporte público. Hoje, quando falamos em Planejamento Urbano da cidade dos quinze minutos (onde todas as principais atividades e serviços devem estar a quinze minutos a pé, de bicicleta ou por transporte público), talvez seja necessário voltar aos tempos do bonde (e do trem, e dos demais transportes de massa) e propor uma cidade menos espraiada, sem os devaneios do Urbanismo modernista e de sua necessidade perene do veículo automotor individualizado. Mapear as linhas de bonde é compreender um sistema que, em seu tempo, funcionou a contento.. Quais modais de transportes públicos podemos usar nos dias de hoje, para aproximar as pessoas e reduzir suas jornadas diáriass?

Carvalho, Strozenberg e Velasco (2025) fazem uma análise contextualizada do projeto Rio Orla, apresentando sua gênese, polêmicas e consequências. É impossível dissociar o Rio de Janeiro de suas praias, e toda política pública de desenvolvimento urbano desta cidade necessita contemplar a vocação turística, esportiva e de lazer que seus quilômetros de orla ensejam. Nesse sentido, faz-se necessária a avaliação do projeto Rio Orla enquanto política pública, implementada nos anos 90, congregando atores como a Prefeitura do Rio de Janeiro, o Instituto de Arquitetos do Brasil e o Governo do Estado. A requalificação de sua orla foi executada, de modo a priorizar o pedestre, as atividades esportivas e a ampliação das faixas de areia, com quiosques e atividades de lazar. O trabalho é inovador ao usar as redes sociais, e, mais especificamente, o Instagram, como método avaliativo do impacto desse projeto urbanístico. Através da marcação geográfica (geotagging), é possível entender como os citadinos se apropriam daqueles espaços e, com isso, entender se o projeto original vem sendo contemplado ou se novos usos foram estabelecidos. Como bem dizem os autores, o projeto Rio Orla "pegou bem"entre a população. Que nos possamos aprender, com eles, a usar as informações imagéticas das redes sociais como dados adicionais na avaliação das políticas públicas. O velho adágio apregoa que "a voz do povo é a voz de Deus". Talvez, nos dias de hoje, seja melhor dizer que "os posts do povo são a mensagem de Deus".

Ferreira (2025), por sua vez, analisa processos históricos que levaram à ocupação do território que hoje chamamos de Maré. Sua análise propõe paralelos às políticas de urbanização do Rio de Janeiro no século XX, e à formação das favelas como consequência do déficit habitacional para a classe trabalhadora. Também nos conta sobre os conjuntos habitacionais implementados nesse território a fim de realocar as comunidades mais carentes da região. A autora constrói sua análise à luz do preceito de Direito à Cidade, formulado por Henri Lefèbvre, e também agrega o conceito do "não lugar", postulado por Marc Augé. Ao entender a Maré como não-lugar, é possível realizar uma análise crítica da precariedade de infraestrutura de transportes, precarização de serviços públicos, controle do bairro pela criminalidade e grande vulnerabilidade social. O impacto da abertura da Linha Vermelha, a despeito da remoção de moradores de palafitas e cessão de imóveis residenciais populares, deixou a Maré ainda mais enquanto "não lugar", criando vazios urbanos desconectados da cidade, onde prolifera o tráfico e o consumo de drogas. Mais que uma mera crítica, o artigo apresenta bases sólidas para a compreensão dos problemas que afetam o bairro, e serve de subsídio para políticas públicas que venham a mitigá-los. Parte do histórico de sua urbanização para propor transformações futuras que incluam o território (e seus residentes) ao tecido urbano, com direitos e oportunidades.

Por fim, Korytowski (2025) resgata um fato anedótico, num trabalho investigativo digno dos melhores detetives: qual é a origem do Oratório do Morro da Providência? Esse ponto turístico icônico, símbolo da Primeira Favela, não surgiu - como aponta o autor - ex nihilo. Nem tampouco é, como reza a lenda urbana, edificação dos regressados de Canudos. Através de fontes primárias, iconográficas e textuais, o autor reconta a história do promontório onde se encontra o oratório, e postula a existência de uma atalaia de observação já no século XVIII, cuja função original estava relacionada à proteção da capital colonial de invasões estrangeiras. De posto de observação a capela, esse ponto turístico nos ensina sobre a vitalidade de uma cidade e a necessidade de reaproveitamento de seu patrimônio histórico também como fonte de desenvolvimento através de sua vocação turística!Felizmente, o labor acadêmico sobre o Rio não para por aqui. Esta edição apresenta também uma curadoria de onze artigos recém-publicados, cujo recorte espacial relaciona- se ao Rio de Janeiro, elaborada por Amaral (2025). Obviamente, muito mais tem sido escrito e publicado sobre a cidade, e por isso seguimos adiante com o fluxo de publicações desta revista. Esperamos que os artigos publicados neste número gerem o impacto que merecem e sejam fonte de mais pesquisas que nos ajudem a compreender a formação de nossa cidade, a fim de projetá-la como metrópole global: avançada, inclusiva e democrática.

Referências

AMARAL, João Vitor P. do. Curadoria e análise crítica: revisão de seleção da produção acadêmica recente sobre o Rio de Janeiro (até 2025.1). Coleção Estudos Cariocas, v. 13, n. 1, fev. 2025. DOI: 10.71256/19847203.13.1.144.2025.

CARVALHO, Thereza Christina Couto; STROZENBERG, Alberto;

VELASCO, Fabio Carneiro. Rio de Janeiro: praia, quiosques, bicicleta, humor e Instagram. Coleção Estudos Cariocas, v. 13, n. 1, p. 134, abr. 2025. DOI: 10.71256/19847203.13.1.134.2025.

DUARTE, Adriene dos Santos; SANTOS, Claudio João Barreto dos;

LOPES, Renato da Silva. Trilhos do passado: uma jornada cartográfica pelas linhas de bonde do Rio de Janeiro em 1910. Coleção Estudos Cariocas, v. 13, n. 1, p. 131, abr. 2025. DOI: 10.71256/19847203.13.1.131.2025.

FERREIRA, Sarah Silva Batista. A produção do espaço urbano excludente e o Direito à

Cidade no Complexo da Maré. Coleção Estudos Cariocas, v. 13, n. 1, p. 136, abr. 2025. DOI: 10.71256/19847203.13.1.136.2025.

KORYTOWSKI, Ivo. O mistério do oratório do alto do Morro da Providência, no Rio de

Janeiro. Coleção Estudos Cariocas, v. 13, n. 1, p. 139, mai. 2025. DOI:

10.71256/19847203.13.1.139.2025.

PEREIRA, Nelson de Paula. Rua do Sacramento (1903): reformas e melhoramentos à luz da Reforma Passos no Centro do Rio de Janeiro. Coleção Estudos Cariocas, v. 13, n. 1, p. 128, fev. 2025. DOI: 10.71256/19847203.13.1.128.2025.

Sobre o Autor

Dr. Coelho é o atual editor da Coleção Estudos Cariocas. É Engenheiro Cartógrafo (Instituto Militar de Engenharia), Mestre em Informática (Universidade Federal do Amazonas), Doutor em Planejamento Urbano e Regional (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e licenciado em Matemática e Geografia. É servidor público nas esferas municipal e estadual, enquanto pesquisador do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP) e professor adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Além disso, é pesquisador associado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nesse campo, seus principais interesses são Processamento Digital de Imagens de Sensores Remotos (para aplicações em Fotogrametria e Análise de Imagens), Modelagem Digital de Superfícies e Cadastro Multifinalitário. Em paralelo à formação acadêmica em engenharia e geociências, possui Bacharelado em Teologia (SETEK, convalidado pela FUV) e Doutorado em Liturgia (Sewanee: the University of the South). Nascido no Brasil, também é cidadão português e espanhol, e membro da ACEBRA (Asociación de Científicos Españoles en Brasil). Grafias alternativas: Luiz Carlos Teixeira Coelho ou Luis Carlos Teixeira Coelho. Website: www.teixeiracoelho.com

Contribuições do Autor

Conceituação, L.C.T.C.; metodologia, L.C.T.C.; software L.C.T.C.; validação, L.C.T.C.; análise formal, L.C.T.C.; investigação, L.C.T.C.; recursos, L.C.T.C.; curadoria de dados, L.C.T.C.; redação—preparação do rascunho original, L.C.T.C.; redação—revisão e edição L.C.T.C.; visualização, L.C.T.C.; supervisão, L.C.T.C.; administração do projeto, L.C.T.C.; aquisição de financiamento, L.C.T.C.. Todos os autores leram e concordaram com a versão publicada do manuscrito.

Conflitos de Interesse

O autor declara não haver conflitos de interesse.

Sobre a Coleção Estudos Cariocas

A Coleção Estudos Cariocas (ISSN 1984-7203) é uma publicação de estudos e pesqui- sas sobre o Município do Rio de Janeiro, vinculada ao Instituto Pereira Passos (IPP) da Secretaria Municipal da Casa Civil da Prefeitura do Rio de Janeiro.

Seu objetivo é divulgar a produção técnico-científica sobre temas relacionados à cidade do Rio de Janeiro, bem como sua vinculação metropolitana e em contextos regionais, nacionais e internacionais. Está aberta a quaisquer pesquisadores (sejam eles servidores municipais ou não), abrangendo áreas diversas - sempre que atendam, parcial ou integralmente, o recorte espacial da cidade do Rio de Janeiro.

Os artigos também necessitam guardar coerência com os objetivos do Instituto, a saber:

  1. promover e coordenar a intervenção pública sobre o espaço urbano do Município;
  2. prover e integrar as atividades do sistema de informações geográficas, cartográficas, monográficas e dados estatísticos da Cidade;
  3. subsidiar a fixação das diretrizes básicas ao desenvolvimento socioeconômico do Município.

Especial ênfase será dada no tocante à articulação dos artigos à proposta de desenvol- vimento econômico da cidade. Desse modo, espera-se que os artigos multidisciplinares submetidos à revista respondam às necessidades de desenvolvimento urbano do Rio de Janeiro.

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